Culturas de grânulos aeróbios tratam água residual têxtil contendo um corante recalcitrante e nanopartículas de prata

As águas residuais da indústria têxtil (ART) desde há muito que são conhecidas por conter elevadas cargas orgânicas e corantes recalcitrantes, mas o uso crescente de nanopartículas de prata (AgNP) em têxteis veio originar um novo desafio ambiental. Num estudo recentemente publicado na revista Ecotoxicology and Environmental Safety, uma ART sintética contendo um corante azo foi tratada com uma cultura de grânulos aeróbios (GA) em reatores descontínuos sequenciais (RDS) e o impacto da presença de AgNP foi avaliado em operação prolongada. Este estudo inclui os processos de granulação inicial e de reativação dos grânulos após um período de 18 dias em que os reatores foram mantidos fora de operação e a 4ºC. Dois RDS estiveram em operação durante 246 dias, em que um foi alimentado com ART sintética contendo AgNP a 20 mg L⁻¹ e o outro foi operado como controlo sem AgNP. A granulação foi conseguida em 40-50 dias em ambos os reatores, e as AgNP revelaram ter um efeito positivo na sedimentação dos GA e na acumulação de biomassa no reator, mesmo durante o período de reativação. As AgNP acumularam-se nos GA mas o desempenho destes no tratamento não foi afetado, tendo sido atingidos valores de 80% para a redução do corante azo e para a remoção de carga orgânica, respetivamente após 1 e 2 semanas de operação, que foram mantidos ao longo de toda a operação em ambos os RDS. Contudo, apenas os GA sujeitos à alimentação com AgNP conseguiram converter uma amina aromática recalcitrante, um metabolito da redução do corante azo, por períodos prolongados. Não foram observadas diferenças significativas entre os dois RDS em termos de tendências de destoxificação, e não se identificou qualquer correlação entre a citotoxicidade/genotoxicidade potencial de amostras da suspensão reacional e a presença nelas do corante azo ou do seu metabolito. Este estudo vem proporcionar novos entendimentos sobre o impacto de AgNP na granulação, estabilidade e reativação de GA, e inclui a avaliação de aspetos de toxicidade, apoiando a perspetiva de aplicação de GA em tratamento de ART, mesmo em regime de descargas intermitentes e contendo poluentes emergentes como AgNP. Este trabalho foi realizado por equipas lideradas por Nídia Lourenço do grupo Biochemical Engineering (BIOENG) da Unidade de Investigação em Biociências Moleculares Aplicadas (UCIBIO) da Universidade NOVA de Lisboa, e por Cristina Viegas no iBB-BSRG, com a contribuição de Helena Pinheiro, membro do iBB-2BRG. Ambas as equipas estão integradas no Laboratório Associado Instituto para a Saúde e a Bioeconomia (i4HB) e a FCT providenciou apoio financeiro através dos projetos Biotextile (PTDC/EBB-EBI/120624/2010) e NanoMicroImpact (PTDC/AAG-TEC/4501/2014). Ver mais.